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V de Vinagre: game brinca com protestos pela redução das tarifas de ônibus

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O jogo “V de Vinagre”, baseado nos protestos do dia 13 de junho contra o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo, ganhou destaque recentemente no Facebook. Com uma jogabilidade simples e divertida, e uma abordagem sarcástica em relação à violenta atuação da Polícia Militar na Avenida Paulista. O TechTudo conversou com Paulo Luis Santos, desenvolvedor do jogo para esta edição da coluna Geração Gamer.

Capa do game "V de Vinagre" (Foto: Divulgação)Capa do game "V de Vinagre" (Foto: Divulgação)

Paulo Luis Santos tem 31 anos e se formou em jornalismo na ECA-USP, em 2009, mas conta que se desiludiu com a profissão. “Percebi que minha felicidade estaria em outra área – a de desenvolvimento de games. Entrei na Pós-Graduação do Senac em Programação e Desenvolvimento de Games e consegui migrar para a área em 2010″, explica Paulo.

O desenvolvedor trabalhou nas empresas LevelUp!, Aeria Games e Aennova. Depois de passar por estas experiências, Paulo fundou a Flux Game Studio em 2012, que completa um ano em julho.

As inspirações e a jogabilidade simples de "V de Vinagre"

“V de Vinagre” é baseado nos protestos do Movimento Passe Livre em São Paulo, que milita pela redução do aumento das passagens na cidade, de R$ 3,00 para R$ 3,20, além de alguns manifestantes também defenderem o passe gratuito para a população toda.

A mobilização, que ganhou novos adeptos, enfrentou uma forte repressão da Tropa de Choque da Polícia Militar no dia 13 de junho, que impediu a marcha dos manifestantes do Theatro Municipal até a Avenida Paulista. Cerca de 250 pessoas chegaram a ser detidas, incluindo jornalistas. Alguns repórteres foram feridos com balas de borracha, enquanto outros foram presos por porte de vinagre, utilizado para amenizar efeitos de bombas de gás lacrimogêneo.

Imagem do game, que rola na Avenida Paulista, fugindo da PM de São Paulo (Foto: Divulgação)Imagem do game, que se passa na Avenida Paulista, em São Paulo (Foto: Divulgação)

“O nome do nosso game ironiza de maneira imediata o ridículo que foi prender um jornalista por posse de vinagre. E tem algumas vantagens: traz o ícone que é o V de Vingança, esteticamente muito bom, e que cobre o rosto com uma máscara, o que permite a qualquer um se identificar com o personagem”, disse Paulo, sobre a mensagem que seu jogo buscou passar. O nome “V de Vinagre” foi retirado de brincadeiras compartilhadas massivamente em redes sociais como o Facebook.

O jogo consiste em driblar obstáculos na Avenida Paulista sem ser pego pela polícia e coletar o maior número de frascos de vinagre possível. Se você for pego pela PM, leva pancadas e perde a partida.

Um jogo criado em apenas 18 horas

“Ao todo, seis pessoas participaram: dois programadores, dois artistas, um produtor e um game designer/audio designer, que foi o meu trabalho", explicou o desenvolvedor. O jogo foi criado em 18 horas, no evento Game Jam, que reúne desenvolvedores de jogos para compartilhar ideias e criar games em períodos de 24 a 48 horas.

De acordo com Paulo Luis Santos, a opção por fazer um jogo 2D de corrida da Tropa de Choque, com comandos simples como pular e se arrastar, foi baseado em um projeto que estava em desenvolvimento para um cliente da Flux Game Studios.

Cena do Game Over do jogo mostra imagens compartilhadas no YouTube (Foto: Divulgação)Cena do Game Over do jogo mostra imagens compartilhadas no YouTube (Foto: Divulgação)

Sobre os games que influenciaram “V de Vinagre”, Paulo citou alguns títulos famosos: “O jogo Riot para smartphones foi usado como referência sim. Em termos de Game e Level Design, há influências de Sonic e Megaman. A truculência policial de Mirror’s Edge também entrou na conta”.

Games como mídias em potencial

Paulo Luis Santos não acha que o mercado de games nacional seja grande, porque ele carece de características de países com grandes publishers. “Embora já haja um bom mercado de Advergames, e empresas muito estruturadas e competentes como a Hive e a Aquiris, o restante ainda está engatinhando." O designer explica que ramos como Serious Games (para jogadores hardcore), Game Based Learning (Educational e Training Games), NewsGames, games como extensão de produtos e games de segunda tela para televisão são nichos quase virgens no país.

Mesmo com a popularidade do tema de “V de Vinagre”, o designer não acredita que jogos envolvendo protestos populares podem se tornar uma tendência nos games brasileiros ou mesmo mundiais. “Games de protesto em si podem ser interessantes somente para desenvolvedores independentes. Se houver envolvimento de grandes empresas ou publishers, dificilmente um tema controverso será respaldado e financiado." Paulo citou como exemplo o recente Six Days in Fallujah, que abordava a Guerra no Iraque por um angulo desfavorável aos EUA e foi cancelado.

Apesar desse pessimismo quanto às grandes corporações de jogos eletrônicos, o desenvolvedor é mais otimista na utilização de game como mídia: “O game é, no fundo, uma mídia, assim como o rádio, a televisão, websites, jornais e revistas. E, ao ser enxergado como mídia, ele ganha um leque de possibilidades muito amplo”.

Sobre nosso país, o desenvolvedor acredita que há potencial para gerar games criativos fora do que já é feito. “O mercado de jogos do Brasil ainda está em um estágio embrionário de desenvolvimento. Mas algumas empresas e pessoas estão acordando para a realidade que games não servem apenas para fins de entretenimento e podem ter um escopo muito mais amplo. ‘V de Vinagre’ é um exemplo disso, porque gera engajamento em uma causa social ao mesmo tempo em que oferece uma dose de diversão e bom humor”, completa.

Veja dicas de jogos e apps para smartphones no nosso fórum.


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