Após mais de um ano sendo testado publicamente, recebendo críticas das mais diversas (incluindo deste que vos fala) e tendo que lidar com incertezas e desconfianças, o Windows 8 será enfim lançado. Está tudo pronto?
Depende. Tenho usado o RTM (versão final) há mais de um mês. “Como?”, você pergunta; através da edição Enterprise de avaliação, válida por 90 dias. No momento em que escrevo, ainda tenho 38 restantes. Esses mais de 50 dias foram suficientes para ter uma boa noção do que é o Windows 8.
A experiência justificada

Não tenho tablet, híbrido ou qualquer dispositivo capaz de rodar o Windows 8 com tela sensível a toques, logo, a minha experiência se reduziu as outras formas de interação homem-máquina: mouse e teclado em um desktop, touchpad e teclado em um ultrabook.
Em ambos os casos, um bom pedaço do sistema fica em segundo plano. A interface moderna, a que você vê na "Tela Inicial" e verá nos comerciais e material publicitário da gigantesca campanha de marketing da Microsoft, não faz muito sentido sem uma touchscreen. O que, no fim das contas, não chega a ser algo muito ruim.
Para quem usa o Windows profissionalmente e depende dos apps agora “legados”, aqueles que rodam na "Área de Trabalho", o Windows 8 se assemelha muito ao Windows 7. Passo, no comando do sistema, a maior parte do tempo nesse ambiente, então é como se eu ainda estivesse na versão anterior, só que com um tema mais feio e, embora não tenha conseguido aferir essa informação precisamente, com mais velocidade. O Windows 8 parece mais ágil, mais esperto na hora de lidar com vários programas abertos ao mesmo tempo e, aqui sem dúvida alguma, muito mais veloz para iniciar e desligar mesmo usando um velho disco rígido com partes móveis e um prato girando a 7.200 rotações por minuto. E no SSD do ultrabook? Inicialização e desligamentos viram processos assustadoramente rápidos.
Isso tudo não é tão ruim porque vai de encontro à promessa da Microsoft, de um sistema “sem comprometimentos”. A ideia é que o Windows 8 se adapte a diversos form factors, ou seja, a diversos tipos de equipamentos (tablets, desktops, híbridos, notebooks, etc) sem problemas para o usuário. A prática validou esse discurso, mas pôs em xeque todo esse esforço para mudar radicalmente o sistema.
Se a interface moderna, que é onde estão as verdadeiras novidades do Windows 8, os apps modernos, a "Loja", enfim, tudo o que teoricamente justifica o upgrade somem frente a métodos antiquados (e, de longe, mais populares) de interação, por que eu deveria atualizar o meu sistema?
Não sei se foi essa linha que a Microsoft seguiu, mas a resposta pronta a ser dada a essa pergunta atende pela palavra preço. O Windows nunca esteve tão barato. Quem comprou um novo equipamento por agora paga só R$ 30 pela atualização. Já quem tem um equipamento mais velhinho com Windows XP, Vista ou 7, a atualização ficou salgada. Nos Estados Unidos ela sai por US$ 39,99 via download (R$ 80) ou US$ 69,99 em DVD, caixinha (R$ 140). Por aqui, lojas do varejo acabaram de colocar a versão física em pré-venda por assustadores R$ 269. A versão digital, via download, só no dia 26 mesmo — e, esperamos, com um preço mais camarada. Caso contrário, a justificativa para atualizar mesmo com poucas novidades, vai pelo ralo.
Usando a atualização do Windows 8
Com o mouse, os cantos da tela são seus melhores amigos. Os do lado direito abrem a "Charm Bar", um painel lateral com cinco botões dinâmicos que dão acesso a opções importantes — configurações, pesquisa, dispositivos e compartilhamento, além do botão que o leva à "Tela Inicial". Eles fazem muito mais sentido com apps modernos, então não é como se você fosse usá-los o tempo todo usando apps antigos.

À esquerda, o canto de cima revela o último app aberto. Leve em conta que a "Área de Trabalho", aos olhos do Windows 8, é um mero app. Então ao colocar o mouse ali, você não verá o Word ou o Chrome ou o Photoshop, mas sim o último app moderno aberto. Arrastar o mouse para baixo revela outros apps abertos, uma espécie de Alt + Tab (que continua funcionando) mais visual. Com um arrastar para um dos cantos da tela, o Aero Snap surge. Aqui, usei muito isso para o app "Mensagens", que concentra os bate-papos do Facebook e Windows Live Messenger em uma interface meio SMS de celular, com balões e tudo mais. Isso é bem útil. O "Mensagens" é o app moderno que mais uso, de longe.

Embaixo, à esquerda, um atalho para a "Tela Inicial", que substitui o menu "Iniciar" e, de verdade, é bem prática. A interface é bastante fluída e a busca instantânea, quando se começa a digitar algo, rápida e mutante — o Windows passa a privilegiar, nos resultados, os apps mais usados.
Movimentos naturais com o dedo se tornam meio esquisitos com o mouse. A “rodinha” assume um papel importante aqui, rolando telas horizontalmente. Isso não é muito natural, afinal nos acostumamos a ela trabalhando na vertical, mas pela natureza da interface "Metro/moderna" faz algum sentido que seja diferente. Algumas interações de arrastar e soltar, como para fechar apps (aperte e segure a “mãozinha” no topo da tela e arraste-a para baixo), ficam…esquisitas com o mouse. Há muitos atalhos novos no teclado que agilizam o trabalho, mas que em contrapartida acrescentam alguns metros à curva de aprendizado do novo sistema. E curvas longas são coisas que ninguém gosta, muito menos a pessoa que usa o computador esporadicamente e, até hoje, não aprendeu a tirar vantagem das maravilhosas teclas "Page Down" e "Page Up". Como exigir que ele domine mais atalhos se os antigos, que já eram bem úteis, foram negligenciados até então?
No ultrabook, a experiência foi um pouco pior por dois motivos: drivers bugados e gerenciamento de energia ineficaz.

Uso um modelo da Samsung que, com o Windows 7 de fábrica, era bem interessante e brilhava nesses dois aspectos. O gerenciamento de energia era muito mais eficiente com estados mais claros, econômicos e interações mais simples — feche a tampa para suspender, abra-a para voltar ao trabalho do ponto onde parou. O Windows 8 (e o Windows 7 padrão, sem o utilitário de energia da Samsung) é ruim demais nesse ponto. Sinto muita falta de fechar a tampa em um dia e, no outro, abri-la com pouca perda de bateria e sem precisar apertar o botão “Power”.
Essa dificuldade da Microsoft talvez tenha relação com a multiplicidade de equipamentos disponíveis; abranger todos, e isso inclui os que ainda nem foram lançados e aqueles ainda mais distantes, hoje nas pranchetas dos projetistas, é impossível. Então até a Samsung liberar utilitários e drivers atualizados para o Windows 8, a experiência fica comprometida.
Já os drivers, embora todos sejam instalados e façam seu trabalho no mínimo do que se espera, ainda carecem de polimento. Um em especial: o do touchpad. O meu modelo usa drivers da Elan e, embora um pouco engessado no que diz respeito à personalização, ele funciona muito bem com o driver do Windows 7 — os gestos são fluídos e a sensibilidade, na medida certa. O driver (Beta, vale dizer) da Elan para Windows 8 ainda é bem desastroso. Com ele, os gestos nativos do Windows 8, aqueles acionados pelas bordas para ativar "Charm Bar", menus inferiores e alternar entre apps modernos funcionam (são os mesmos gestos de telas sensíveis a toques, mas feitos no touchpad). Mas parece que falta calibração. Vira e mexe você ativa a "Charm Bar" sem querer e vê o cursor empacar na tela, exigindo um novo toque apenas para voltar a rolá-lo. E um dos gestos mais legais do driver antigo, o voltar/avançar com três dedos passados horizontalmente, sumiu!
No momento opero o Windows 8 no ultrabook com o driver do Windows 7. No frigir dos ovos, ele se sai melhor no dia a dia.
Mas vai melhorar
O Windows 8 será lançado na próxima sexta-feira, dia 26 de outubro. Uma semana é pouco, mas deve ser o bastante para aparar essas pequenas arestas. Se você quer extrair todo o poder da nova faceta do sistema, pegue um tablet ou um híbrido. Veremos vários inundarem as lojas até o Natal e, mesmo sendo arriscado comprar algo tão inovador assim, de primeira geração, é a única forma de usufruir dos apps modernos sem se frustrar.
Caso contrário, você não ganhará muito com a atualização e se os preços ficarem caros assim (R$ 269 pela versão em DVD contra US$ 69,99, ou R$ 140, nos Estados Unidos), fica complicado. Há vantagens, sim: o sistema parece mais ágil e tem uma ou outra coisa que agrega ao uso diário. Nada muito incrível. Fica a seu critério, pois, além da esperança de que o preço do download seja condizente com o dos Estados Unidos, onde a Microsoft cobrará US$ 39,99 (R$ 80).
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